Registros informacionais: do papiro ao digital
Dos primórdios da humanidade até os dias atuais, o homem teve a necessidade de registrar seu cotidiano, utilizando-se de ferramentas como pedras, ossos e materiais pontiagudos, com intuito de materializar suas expressões, costumes e modos. A partir do aperfeiçoamento desses instrumentos e suportes, no decorrer da história da humanidade, constituiu-se a ideia de biblioteca, que foi inicialmente pensada para armazenar livros, tábuas de argilas, papiros e pergaminhos. Somente séculos depois foi reconhecida como disseminadora da informação e propagadora de conhecimento.
Biblioteca de Alexandria recriada por Inteligência Artificial
Duas das bibliotecas mais famosas e antigas da história foram a Biblioteca de Alexandria e a Biblioteca de Pérgamo.
A biblioteca de Alexandria, criada no Egito, no século III a. C., ficou conhecida por seu grandioso número de volumes (acredita-se que teria mais de setecentos mil volumes). Foi criada por Ptolomeu I e continuada por Ptolomeu II, que acreditava na ideia de preservação do conhecimento e defendia a concepção de biblioteca como conhecemos nos dias atuais, e projetava a Biblioteca de Alexandria, já naquela época, como local de guarda e preservação da produção do conhecimento humano.
A biblioteca de Pérgamo, criada na cidade de Pérgamo, no século II a. C., também se destacava pelo seu número de volumes, aproximadamente 200.000 volumes, chegando a competir com a de Alexandria e se tornou um dos maiores centros da cultura helenística grega.
Também houveram outras bibliotecas no decorrer da história que tiveram certo destaque como a Biblioteca de Mênfis, criada há mais de três milênios pelo faraó Ramsés II e a biblioteca de Nínive criada pelo assírio Assurbanipal, há mais de três milênios (possuía uma coleção de mais de 30.000 tábuas escritas em cuneiforme).
Escrita cuneiforme em tabletes de argila
Rolo de papiro com nomes de fazendeiros
Já na Idade Média (476 à 1453), os Mosteiros e a Igreja têm um papel de relevância no desenvolvimento das bibliotecas. É durante esse período que ocorre a transição do uso dos rolos de pergaminhos (como em Alexandria, através dos volumens) para intensificação dos códices (eram livros feitos à mão, compostos por dois pedaços de madeira para a capa e as páginas eram costuradas ao meio, como conhecemos atualmente, mas na época, eram itens de luxo). As bibliotecas medievais ganharam destaque na Europa devido à formação de grandes acervos nos Mosteiros e a propagação da Igreja. Podemos destacar, entre os eventos mais marcantes que:
- Os livros eram dispostos nas estantes e com melhores tintas;
- Haviam grandes tomos presos em correntes de ferro (pois o acesso era restrito e somente as autoridades religiosas tinham seu controle);
- Existiam os scriptorium beneditinos e de outras ordens religiosas (era uma grande sala ou compartimento de um mosteiro para uso dos escribas e copistas).
Com isso, houve o surgimento das coleções das primeiras grandes bibliotecas atuais, como a do Vaticano, por exemplo.
Biblioteca acorrentada da histórica Catedral de Hereford, na Inglaterra
Na Idade Moderna, a invenção da prensa móvel por Johannes Gutenberg no século XV desempenhou um papel fundamental na disseminação do conhecimento. Foi através da sua invenção que foi possível a reprodução de livros em grande escala. Vale ressaltar que a invenção não foi pioneira, tendo em vista que desde o século XII, calendários e livros sagrados já eram impressos pelos chineses, que utilizavam cerca de 400 mil ideogramas talhados em madeira. Porém, a técnica era inovadora, pois Gutenberg criou tipos móveis mais resistentes, que poderiam ser reutilizados em outros trabalhos impressos. Até 1489, já havia prensas como a dele na Itália, França, Espanha, Holanda, Inglaterra e Dinamarca. Em 1500, cerca de 15 milhões de livros já tinham sido impressos. Então, os livros deixaram de ser exclusivos da nobreza e do clero, passando a serem melhor disseminados.
Na Idade Contemporânea, as bibliotecas passaram dos mosteiros para as universidades e os palácios reais, com o qual foram se avolumando as grandes coleções de livros da nossa atualidade. Aproximadamente, uma centena de bibliotecas apresenta, cada uma, patrimônio superior a um milhão de volumes. A National Central Library de Londres, a Biblioteca Lenin, de Moscou, a do Congresso, de Washington, fundada em 1800 e a maior do mundo pelas dimensões de seu edifício, a de Paris, já referida, a Biblioteca Pública de Nova York, a de Leningrado e a do British Museum são, atualmente e nessa ordem, as mais ricas pelo acervo bibliográfico.
No Brasil, fundada em 1810, a Biblioteca Nacional é a principal instituição responsável pela preservação, catalogação e disponibilização do patrimônio bibliográfico e documental. Localizada na cidade do Rio de Janeiro, é considerada pela UNESCO uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo, e a maior biblioteca da América Latina. O núcleo original da Biblioteca Nacional do Brasil é a antiga livraria de D. José, organizada sob a inspiração de Diogo Barbosa Machado, Abade de Santo Adrião de Sever. A coleção de livros foi iniciada para substituir a Livraria Real, que foi consumida pelo incêndio que sucedeu o terremoto de Lisboa de 1º de novembro de 1755.
Acervo da Biblioteca Nacional do Brasil
A partir da evolução tecnológica e particularmente as tecnologias da informação e comunicação surgiu a biblioteca digital, influenciada pelo protótipo em 1945, do Memory Extension (Memex), idealizado por Vannevar Bush no seu artigo “As we may think?” (Como podemos pensar?). O Memex seria uma máquina capaz de armazenar textos e imagens criando associações entre eles. A biblioteca digital reúne coleções, serviços e pessoas para apoiar todo o ciclo vital de criação, disseminação, uso e preservação de dados, informação e conhecimento, podendo ser acessada remotamente. É evidente que a sociedade está na Era da Informação, porque a humanidade se depara com um fluxo cada vez maior de informações em diferentes suportes, com uma grande velocidade de acesso efetuada pelas novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs). Aliás, vale relembrar que os meios tradicionais de informação e comunicação se adaptaram conforme as necessidades humanas, como qualquer tecnologia, e expandiu o acesso à informação, por meio do ambiente e suporte digital que ampliou o acesso, localização e avaliação.
Nessa perspectiva, conforme foi abordado nesse breve panorama da trajetória das bibliotecas, a Caema vai ao encontro dos novos rumos das demandas informacionais, pois em 2020, a biblioteca da Caema passou por um processo de revitalização, adequando seus serviços e atividades por meio de ações preventivas e reparadoras do seu acervo, técnicas de catalogação, indexação, classificação e digitalização do acervo. A partir dessa revitalização, houve a ideia da criação da biblioteca digital.
A Biblioteca Digital da Caema é um serviço integrado à Biblioteca da Companhia, que é vinculada ao Centro de Documentação e Informação Italuís, e foi desenvolvido através de uma parceria entre a Caema e o departamento de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão. O projeto teve o objetivo de construir um repositório especializado na área de Saneamento Ambiental, disponibilizando um mecanismo tecnológico para a difusão da informação na sociedade.
Através de seus produtos e serviços, busca desenvolver suas ações objetivando ser uma importante instância possibilitadora para a democratização do acesso à informação e ao conhecimento técnico-científico no estado do Maranhão, em Saneamento Ambiental e áreas interdisciplinares, bem como na formação continuada dos servidores e colaboradores.
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